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Remígio-PB, Paraíba, Brazil
Mestre em Letras pela UEPB e professor de Língua Portuguesa do ensino médio em escola de tempo INTEGRAL. Meu interesse com esse espaço é poder divulgar e compartilhar com todas e todos minhas atividades escolares e questões objetivas de português para estudos voltados para concursos públicos e o ENEM.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

ATIVIDADE DE PORTUGUÊS REVISÃO PARA O ENEM E CONCURSO PÚBLICO

Mundo chega à marca de 8 bilhões de habitantes

Segundo a Organização das Nações Unidas, o ritmo de crescimento da população está mais lento.

O mundo chegou nesta terça-feira (15) à marca de 8 bilhões de habitantes. Segundo a Organização das Nações Unidas, o ritmo de crescimento da população está mais lento.

O bebê número 8 bilhões nasceu na República DominicanaDamián foi o escolhido pela ONU para celebrar o momento histórico, um símbolo, porque o bebê 8 bilhões pode ter nascido nesta terça na Itália, na Ucrânia, Alemanha, Bolívia ou na Índia, que foi o país que mais contribuiu para o aumento da população: são 1,4 bilhão de indianos hoje. Ano que vem já serão mais do que os chineses.

E oito países respondem por mais da metade do crescimento populacionalAlém da Índia, República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Tanzânia.

Oito bilhões. Não tem como olhar para esse número e não pensar: será que esse planeta comporta tanta gente? Perdemos 420 milhões de hectares de florestas desde 1990, a emissão de gases que aquecem o planeta é cada vez maior e 30% de todos esses gases vêm da produção de alimentos, enquanto a fome e a pobreza se alastram.

Mas para as Nações Unidas é um dia para comemorar: os avanços da medicina que nos fazem viver mais e o fato de que agora somos 8 bilhões de cabeças para pensar o futuro. Porque o problema não é o crescimento da população, o problema está na má distribuição dos recursos.

Os maiores emissores de gases que aquecem o planeta não são os países onde a população mais cresce, são os países em que as pessoas têm mais dinheiro. É lá também que é consumida a maior parte da energia do mundo.

O ritmo de crescimento populacional diminuiu, e a expectativa é que atinjamos os 9 bilhões de pessoas em 15 anos. Rachel Snow, do Fundo das Nações Unidas para as Populações, disse ao Jornal Nacional que é fácil prever onde e de que forma isso vai acontecer, e planejar: com agricultura em menor escala mais perto de casa, com os países ricos apoiando tecnicamente e com recursos os que estão no processo para desenvolver matrizes energéticas renováveis e também com saúde, educação, segurança.

Para que na hora que o cordão umbilical for cortado na República Dominicana, na Itália, na Ucrânia, Alemanha, Bolívia ou Índia todos possam ter um futuro próspero, com acesso aos recursos do planeta.

(Fonte:https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/11/15/mundo-chega-a-marca-de-8-bilhoes-de-habitantes.ghtml15/11/2022).

1.   Essa notícia, além de cumprir sua função informativa, assume o papel de

a)   ressaltar a importância dos avanços da medicina e da melhora na qualidade de vida da população mundial.

b) denunciar que o aumento da população do mundo causará um colapso no abastecimento de alimentos e energia.

c)   responsabilizar os países menos desenvolvidos economicamente pelo aumento desenfreado da população.

d)  conscientizar os países asiáticos como Índia e China a adotarem medidas para controlar o aumento de sua população.

e)  evidenciar a importância de um planejamento global para receber os futuros habitantes, com mais alimento energias renováveis, educação, saúde e segurança.


2.   O texto revela que não há problema em os países aumentarem sua população, a questão de fato é

a)   a intensificação do aumento da emissão de gases que aquecem o planeta.

b)   a perda de vasta área florestal para a construção de moradias e expansão da agricultura.

c)   o aumento das desigualdades sociais e da má distribuição de renda.

d)   a precariedade na saúde, educação e segurança.

e)   a permanência da supremacia dos mais ricos sobre os mais pobres.

 

3. Para convencer o público-alvo sobre a necessidade de um planejamento consciente para as gerações futuras do planeta, esse texto usa como estratégia argumentativa

a) citação de números, dados estatísticos, pergunta retórica e argumentos de causa e efeito.

b)  apelação para os avanços da medicina como medida de controlar a explosão demográfica.

c)   comprovação por meio de dados estatísticos da necessidade de campanhas de conscientização.

d) argumento de autoridade baseado na orientação da ONU para redução da população mundial.

e) refutação dos dados da ONU sobre o aumento populacional dos países africanos.

 

4.   Ao concluir a ideia do texto no último parágrafo, o autor mobiliza um recurso expressivo empregado para a construção do efeito de sentido pretendido, a partir

a) da metáfora entre cortar o cordão umbilical e o nascimento da criança 9 bilhões.

b)   do exagero de expressão acerca do corte de cordão umbilical.

c)   da relação metonímica do nascimento da criança 9 bilhões e do corte do cordão umbilical.

d) da personificação em atribuir características humanas ao crescimento populacional.

e)  da polissemia da palavra “cortado” que nesse contexto remete à redução da população.

 

5. O texto em análise é exemplar de um gênero discursivo do universo jornalístico, construído a partir de fatos e opiniões, em que se evidencia uma opinião no trecho: 

a)   “O bebê número 8 bilhões nasceu na República Dominicana

b)   “Damián foi o escolhido pela ONU para celebrar o momento histórico”

c)   “E só oito países respondem por mais da metade do crescimento populacional”

d) “o problema não é o crescimento da população, o problema está na má distribuição dos recursos.”

e) “O ritmo de crescimento populacional diminuiu, e a expectativa é que atinjamos os 9 bilhões de pessoas em 15 anos”

 

6.   As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que atuam na construção do sentido. A esse respeito, identifica-se, no fragmento, que 

a)   o conectivo “porque” no 2º parágrafo marca uma relação explicativa.

b)   o termo “só” no 3º parágrafo restringe o número de países.

c)   o operador “enquanto” no 4º parágrafo expressa uma relação adversativa.

d)   a conjunção “mas” no 5º parágrafo concorda com as informações do parágrafo anterior.

e)   o conectivo “para que” no último parágrafo demarca relação de conclusão.

 

7.   A coesão é o processo que “costura” as palavras de um texto, conferindo-lhe unidade, provocando a retomada de informações ou a progressão de ideias. Nesse sentido, no penúltimo parágrafo, os elementos “onde” e “isso” funcionam como 

a)   operadores argumentativos, conferindo sequenciação de ideias do texto.

b)   conectivos de retomada, substituindo informações já citadas antes.

c) expressões expletivas, podendo ser retiradas sem causar prejuízo às informações.

d)   conjunções conclusivas, encerrando a ideia da explosão demográfica daqui a 15 anos.

e) expressões catafóricas, apontando para informações que serão citadas posteriormente.

 

8. Os sinais de pontuação são elementos com importantes funções para a progressão temática. O sinal de dois-pontos usado na primeira linha do quarto parágrafo foi utilizado para indicar

a)   um esclarecimento a partir de uma indagação.

b)   uma informação implícita, isto é, que não está clara na mente do interlocutor.

c)   uma situação incoerente que passa na mente do leitor.

d)   a eliminação de uma ideia.

e)   a interrupção de uma ação.

 

9. No texto, o enunciado “O bebê número 8 bilhões nasceu na República Dominicana”, o artigo definido foi utilizado como estratégia argumentativa do autor para indicar

a)   que pode ter sido qualquer bebê que se tornou o habitante 9 bilhões.

b) um número quantitativo indeterminado da quantidade de bebês nascidos naquele dia.

c)   um bebê em particular que simboliza o habitante 9 bilhões no mundo. 

d)   uma generalização, referindo-se a todos os nascimentos daquele dia.

e)   sentido vago, de que todos os bebês podem representar o número 9 bilhões de habitantes.

Texto para responder as questões 10, 11 e 12:

10. A articulação entre os elementos verbais e os não verbais do texto tem como propósito desencadear a 

a) retomada de opinião a respeito do aumento desenfreado de pessoas no planeta.

b)   identificação dos efeitos climáticos como maior causador de malefícios à Terra.

c)   adoção de medidas contra o adoecimento do planeta.

d)  retificação dos comportamentos humanos referente à exploração dos recursos da Terra.

e)   ironização acerca da explosão demográfica e como consequência a exploração de mais recursos naturais do planeta.  

 

11. Os dois textos abordam a temática da população global atingir um número quantitativo inédito, porém, em relação ao texto II, o texto I

a)   valida o aumento da população mundial e defende que há recursos suficientes para todos.

b)   concorda em sua integralidade que o aumento de habitantes adoece o planeta.

c)   pondera a marca que o mundo atingiu e defende a ideia de que se deve lançar estratégias hoje para tornar o planeta mais acessível para as gerações futuras.

d)  exalta o nosso planeta como um lugar recepcionista e de recursos ilimitados para todos as gerações.

e)  corrobora com a ideia de que a Terra tem pouco território e recursos para todos, e enquanto mais pessoas, haverá mais adoecimento do planeta.

 

12. No texto II, há uma marca linguística que revela uma situação de proximidade dos interlocutores e de pouca formalidade, o que se evidencia pelo(a)

a)   impessoalização do interlocutor, causada pelo pronome “você”.

b)   ênfase no emprego da hipérbole, em: “oito bilhões”.

c)   emprego do verbo “ter” no lugar de “sentir”, ao indagar o planeta.

d)   resposta grosseira dada pelo planeta, haja vista ter intimidade com a Lua.

e)   escolha da palavra “humanos” em vez de “pessoas”.


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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

ATIVIDADE DE LITERATURA SOBRE O CONTO "BALEIA" (MODERNISMO NO BRASIL 2ª FASE) GRACILIANO RAMOS "VIDAS SECAS"

                                                                              BALEIA

A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.

Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa nas bases, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel.

Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito. Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam a desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta:

- Vão bulir com a Baleia?

Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes a suspeita de que Baleia corria perigo.

Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferenciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.

Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas Sinhá Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-­se e tratou de subjugá-los, resmungando com energia.

Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia.  

Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia.

Os meninos começaram a gritar e a espernear. E como Sinhá Vitória tinha relaxado os músculos, deixou escapar o mais taludo e soltou uma praga:  

- Capeta excomungado.

Na luta que travou para segurar de novo o filho rebelde, zangou-se de verdade. Safadinho. Atirou um cocorote ao crânio enrolado na coberta vermelha e na saia de ramagens.

Pouco a pouco a cólera diminuiu, e Sinhá Vitória, embalando as crianças, enjoou-se da cadela achacada, gargarejou muxoxos e nomes feios. Bicho nojento, babão.  Inconveniência deixar cachorro doido solto em casa. Mas compreendia que estava sendo severa demais, achava difícil Baleia endoidecer e lamentava que o marido não houvesse esperado mais um dia para ver se realmente a execução era indispensável.

Nesse momento Fabiano andava no copiar, batendo castanholas com os dedos. Sinhá Vitória encolheu o pescoço e tentou encostar os ombros às orelhas. Como isto era impossível, levantou um pedaço da cabeça.

Fabiano percorreu o alpendre, olhando as baraúnas e as porteiras, açulando um cão invisível contra animais invisíveis:

-Ecô! ecô!

Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se e esfregando as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos de Baleia, que se pôs latir desesperadamente.

Ouvindo o tiro e os latidos, sinhá Vitória pegou-se à Virgem Maria e os meninos rolaram no chão chorando alto. Fabiano recolheu-se.  

E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda, passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco da cerca e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí por um instante, meio desorientada, saiu depois sem destino, aos pulos.

Defronte do carro de bois faltou-lhe a perna traseira. E, perdendo muito sangue, andou como gente em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do corpo. Quis recuar e esconder-se debaixo do carro, mas teve medo da roda.

Encaminhou-se aos juazeiros. Sob a raiz de um deles havia uma barroca macia e funda. Gostava de espojar-se ali: cobria-se de poeira, evitava as moscas e os mosquitos, e quando se levantava, tinha as folhas e gravetos colados às feridas, era um bicho diferente dos outros. Caiu antes de alcançar essa cova arredada. Tentou erguer-se, endireitou a cabeça e estirou as pernas dianteira, mas o resto do corpo ficou deitado de banda. Nesta posição torcida, mexeu-­se a custo, ralando as patas, cravando as unhas no chão, agarrando-se nos seixos miúdos. Afinal esmoreceu e aquietou-se junto às pedras onde os meninos jogavam cobras mortas. Uma sede horrível queimava-lhe a garganta. Procurou ver as pernas e não as distinguiu: um nevoeiro impedia-lhe a visão. Pôs-se a latir e desejou morder Fabiano. Realmente não latina: uivava baixinho, e os uivos iam diminuindo, tomavam-se quase imperceptíveis.

Como o sol a encandeasse, conseguiu adiantar-se umas polegadas e escondeu-se numa nesga de sombra que ladeava a pedra.

Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se.  

Sentiu o cheiro bom dos preás que desciam do morro, mas o cheiro vinha fraco e havia nele partículas de outros viventes. Parecia que o morro se tinha distanciado muito.  Arregaçou o focinho, aspirou o ar lentamente, com vontade de subir a ladeira e perseguir os preás, que pulavam e corriam em liberdade.

Começou a arquejar penosamente, fingindo ladrar. Passou a língua pelos beiços torrados e não experimentou nenhum prazer. O olfato cada vez mais se embotava:  certamente os preás tinha fugido.

Esqueceu-os e de novo lhe veio o desejo de morder Fabiano, que lhe apareceu diante dos olhos meio vidrados, com um objeto esquisito na mão. Não conhecia o objeto, mas pôs-se a tremer, convencida de que ele encerrava surpresas desagradáveis. Fez um esforço para desviar-se daquilo e encolher o rabo. Cerrou as pálpebras pesadas e julgou que o rabo estava encolhido. Não poderia morder Fabiano: tinha nascido perto dele, numa camarinha, sob a cama de varas, e consumira a existência em submissão, ladrando para juntar o gado quando o vaqueiro batia palmas.

O objeto desconhecido continuava a ameaçá-la. Conteve a respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo por baixo das pestanas caídas. Ficou assim algum tempo, depois sossegou. Fabiano e a coisa perigosa tinham-se sumido.

Abriu os olhos a custo. Agora havia uma grande escuridão, com certeza o sol desaparecera. Os chocalhos das cabras tilintaram para os lados do rio, o fartum do chiqueiro espalhou-se pela vizinhança.

Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era levantar-se, conduzi-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os meninos. Estranhou a ausência deles.

Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a importância em que se achava nem percebia que estava livre de responsabilidades.

Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde Sinhá Vitória guardava o cachimbo.

Uma noite de inverno, gelada e nevoenta, cercava a criaturinha. Silêncio completo, nenhum sinal de vida nos arredores. O galo velho não cantava no poleiro, nem Fabiano roncava na cama de varas. Estes sons não interessavam a Baleia, mas quando o galo batia as asas e Fabiano se virava, emanações familiares revelavam-lhe a presença deles. Agora parecia que a fazenda se tinha despovoado.

Baleia respirava depressa, a boca aberta, os queixos desgovernados, a língua pendente e insensível. Não sabia o que tinha sucedido. O estrondo, a pancada que recebera no quarto e a viagem difícil no barreiro ao fim do pátio desvaneciam-se no seu espírito.

Provavelmente estava na cozinha, entre as pedras que serviam de trempe. Antes de se deitar, sinhá Vitória retirava dali os carvões e a cinza, varria com um molho de vassourinha o chão queimado, e aquilo ficava um bom lugar para cachorro descansar. O calor afugentava as pulgas, a terra se amaciava. E, findos os cochilos, numerosos preás corriam e saltavam, um formigueiro de preás invadia a cozinha.

A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao peito de Baleia. Do outro peito para trás era tudo insensibilidade e esquecimento. Mas o resto do corpo se arrepiava, espinhos de mandacaru penetravam na carne meio comida pela doença.

Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente Sinhá Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo.

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.

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Fonte: RAMOS, Graciliano. Vidas secas, 82ªed. Rio de Janeiro: Record. 2001. p. 85-91.

1.    O capítulo de Graciliano Ramos traz uma alegoria em torno do sofrimento dos últimos momentos de vida de uma cachorra chamada Baleia. Na obra, uma figura de linguagem denominada de personificação é apresentada e aborda as perspectivas dos sentimentos de Baleia. Escreva a seguir as expressões ou frases que destacam a personificação em torno de Baleia.


2.    A obra de Graciliano Ramos, Vidas Secas, retrata as peripécias e desventuras assim como as várias dificuldades de uma família de retirantes. A cachorra é muito querida pelos membros da família e interage com eles. Destaque do texto um trecho que apresenta as interações de Baleia com os membros da família.

 

3.   A cachorra Baleia, diferentemente de seus donos, assume, de certa forma, o papel de um humano no enredo, observe: “Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferenciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras”. (RAMOS, 1992, p. 85- 86) Explique a relação da cachorra com seus sentimentos quando Fabiano atira para matá-la.

 

4.   Explique a expressão dita pelos meninos filhos de Fabiano: “Vão bulir com a Baleia?

 

5.  Que procedimento do conhecimento popular a família adotou para curar a cachorra Baleia antes da decisão de sacrificá-la?

6.      Faça uma análise dos últimos momentos de vida da cachorrinha Baleia.

 

7.  Leia o trecho: ”Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.” Explique o que você compreendeu deste trecho do texto. Qual a conclusão que você tira deste capítulo.

 

8.      A função humanizadora do texto literário se dá a partir do momento em que a leitura passa a ser vista como uma forma de despertar a sensibilidade do leitor através das emoções vividas pelos personagens, e de promover reflexões transformadoras a partir das diversas situações apresentadas nas histórias contadas. Que sentimentos esse texto despertou em você no momento da leitura?

9.      Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. (Graciliano Ramos). Sobre o texto acima, é correto afirmar que:

a) há marcas próprias do chamado discurso direto através do qual são reproduzidas as falas das personagens.

b) o narrador é observador, pois conta a história de fora dela, na terceira pessoa, sem participar das ações, como quem observou objetivamente os acontecimentos.

c) quem conta a história é uma das personagens, que tem uma relação íntima com as outras personagens, e, por isso, a maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais.

d) evidencia-se um conflito entre a protagonista Baleia e o antagonista Fabiano, pois este impede que a cadela possa caçar os preás.

e) o narrador é onisciente, isto é, geralmente ele narra a história na terceira pessoa, sabe tudo sobre o enredo e sobre as personagens, inclusive sobre suas emoções, pensamentos mais íntimos, às vezes, até dimensões inconscientes.


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