Leia o texto abaixo:
O MOLEQUE E O BALAIO
Todos os domingos ele acordava
muito cedo. Às cinco da manhã já estava de pé, chovesse ou fizesse sol.
Pulava da “tipóia”, enrolava-a e em seguida pendurava-a no armador da sala,
onde dormia. Passava um pouco de água na cara
sonolenta, pegava o seu balaio surrado e saía com destino à feira da fruta.
No caminho cumprimentava uns, galhofava com outros colegas que já carregavam
feiras e ia em frente.
Alguns caminhões descarregavam
abacaxis cujo cheiro adocicado impregnava o ambiente. Em muitos outros
pontos, agricultores chegavam com suas éguas trazendo caçuás de bananas
maduras que davam água na boca. Homens se espremiam tirando cargas de
batata-doce do lombo dos jegues. O barulho da feira já era ouvido de longe.
Tinha-se a impressão que o povo só comprava abacaxi, tamanhas eram as rumas
que mais pareciam pirâmides auriverdes. E eram muitas.
Tem frete, dona? Era a voz do
pirralho de calças remendadas. Ante a afirmativa da patroa, a cara do menino
era sorriso só. A boca, de dentes cariados, mostrava o tamanho da felicidade.
Afinal de contas aquela mulher tinha jeito de quem pagava bem, e quem sabe,
ainda oferecesse um café com bolo de farinha de trigo na casa dela. Primeiro
os abacaxis, depois batata-doce, banana prata, laranja comum e cravo,
macaxeira, manga e uma jaca mole pequena. E o balaio enchendo. Você pode
mesmo, menino? Estou achando você tão magro. Aquela mulher estava duvidando
da coragem? Conjecturava. Estava muito enganada! Vamos ver se pagava bem
mesmo... Refletia em seus botões protegidos por rodelinhas de borracha.
Depois de
rodear toda a feira acompanhando a cliente pechinchona, atravessava o Beco do
Jacaré e entravam no “comércio” (mercado público). Carne verde, miúdo,
farinha, goma de Dona Tereza Gonzaga. E o balaio começava a estalar o fundo
de cipó dilatado e gasto pelo sobe e desce dos domingos. Pra encerrar, agora
era a vez das verduras. E se não aguentasse o peso? Valha-me Deus! Pensava o
guri desconfiado e preocupado com o peso que só aumentava. Só faltava a
cliente se engraçar de uma galinha gorda e resolver comprá-la. Era só o que
faltava. Desse jeito não tinha quengo de cabeleira militar que aguentasse.
Nem mesmo com o auxílio da rodilha de pano. Meu sinhô, me ajude aqui. Um
verdureiro alto e forte botava a carga na cabeça. Parecia que o pescoço do
coitado tinha sumido entre as costelas aparentes.
Indicada a direção, seguia os
passos apressados da mulher. O pior era a ladeira. Um gemido aqui, outro ali
e chegava ao destino. Só dava tempo acertar com a mesa da cozinha e ia logo
dizendo: quem me ajuda? Tirado o peso, era um alívio só. As pernas ainda
tremiam. O pescoço aos poucos ia voltando ao normal. Um suor frio escorria
por todo o corpo magricela, ainda
Depois das nove o movimento ia
caindo. Algumas feirinhas mais maneiras, e por isso mais baratas ainda
haveriam de surgir durante o dia. Lá pras tantas só aparecia batateiro. Só
compravam batata para a família, mas tapeavam dizendo que era tudo para os
porcos. Só sabiam mentir, isso sim.
Além do mais pagavam uma mincharia pelo frete, resmungava o menino.
Sentado no meio-fio, começava a
fazer “o caixa”. Até que o dia não tinha sido tão ruim. Mas ainda restava uma
alternativa: juntar casca de jaca para os porcos de Zulmira. Ainda podia
render uns trocados. Era pouco, mas servia. Tudo que caísse na rede, era
peixe.
Quando o sol começava a se esconder
pras bandas do Jacaré, era hora de voltar para casa.
Uma voz disfarçada veio das suas
costas: quer levar minha feira, menino? Que safadeza! Era outro moleque
brincando de patrão.
Itaporanga/84
(Retirado de: Francisco de Assis
Melo. Moleques do Palma. 2009)
|
1.
Com base na leitura do texto, responda:
a) A voz que nos conta a história é de alguém que
não faz parte dela ou pertence a algum personagem presente no texto? Justifique
sua resposta com algum trecho do texto.
b)
De acordo com o texto, descreva o principal
personagem da história.
c)
Sobre o que trata o texto?
d)
Podemos afirmar que o trabalho relatado no texto
é uma atividade “pesada” ou fácil de realizar? Por quê?
e)
Segundo o texto, qual o item que as pessoas mais
compravam em suas feiras?
2.
Deduza o significado das palavras destacadas nos
fragmentos abaixo:
a) “Todos
os domingos ele acordava muito cedo. Às cinco da manhã já estava de pé,
chovesse ou fizesse sol. Pulava da “tipóia”, enrolava-a e em seguida pendurava-a
no armador da sala, onde dormia.”
b) “Passava
um pouco de água na cara sonolenta, pegava o seu balaio surrado e saía com destino à feira da fruta.”
c) “Em
muitos outros pontos, agricultores chegavam com suas éguas trazendo caçuás de bananas maduras que davam água na boca.”
d) “Depois
de rodear toda a feira acompanhando a cliente pechinchona, atravessava o
Beco do Jacaré e entravam no “comércio” (mercado público).”
e) “Só
compravam batata para a família, mas tapeavam dizendo
que era tudo para os porcos.”
3. Há
momentos no texto em que são misturados a voz do narrador com os pensamentos do
personagem. Identifique a quem pertence cada fala nos trechos a seguir:
a) “Todos
os domingos ele acordava muito cedo.”
b) “Tem
frete, dona?”
c) “Vamos
ver se pagava bem mesmo...”
d) “O
pior era a ladeira. Um gemido aqui, outro ali e chegava ao destino.”
e) “Arre
diabo, queimei a língua.”
4. Retire
do texto o que se pede:
a)
Uma palavra ou expressão que indique tempo.
b) Uma
palavra ou expressão que indique lugar.
c) Uma
palavra ou expressão que indique uma emoção. Pode ser de raiva ou alívio.
d) Uma
frase interrogativa.
e) Duas
palavras compostas.
QUESTÕES PARA MARCAR APENAS UMA RESPOSTA
5. De
acordo com esse texto, a feira era um lugar
a) de poucas oportunidades de
trabalho para as pessoas.
b) que não dispunha de
variedade de frutas.
c) de tristeza por causa do
trabalho duro.
d) de oportunidades de
trabalhos.
e) roubos e exploração de
trabalho.
6. No
trecho abaixo em destaque é sugerido que o menino terminou seu dia de trabalho
Sentado no
meio-fio, começava a fazer “o caixa”. Até que o dia não tinha sido tão ruim.
|
a) conformado
b) desanimado
c) muito
feliz
d) com
raiva
e) triste
7. No
trecho abaixo, a palavra destacada pode ser substituída, sem alterar o sentido
do texto, por
“No caminho cumprimentava uns, galhofava com outros colegas que já carregavam feiras e ia em
frente.”
|
a) brigava
b) brincava
c) resmungava
d) sonhava
e) corria
8. Esse
texto tem o objetivo de
a) Divulgar a feira de Remígio
b) Orientar sobre a
organização de uma feira
c) Relatar memórias
vividas
d) Convencer o leitor a
denunciar o trabalho infantil
O texto "O moleque e o balaio" e a imagem acima têm em comum
a) abordarem situações diferentes
b) a preocupação com a exploração do trabalho infantil
c) o alerta para os pais não deixarem seus filhos sozinhos nas feiras
d) nada, pois o instrumento de trabalho no texto é o balaio e nessa imagem são carroças de mão.
e) a ilustração que a imagem faz da temática tratada no texto.
10. O termo em destaque no fragmento abaixo pode ser substituído, sem alterar o sentido do texto, por:
"Depois das nove o movimento ia caindo. Algumas feirinhas mais maneiras, e por isso mais baratas ainda haveriam de surgir durante o dia. Lá pras tantas só aparecia batateiro. Só compravam batata para a família, mas tapeavam dizendo que era tudo para os porcos."
a) ou
b) pois
c) porém
d) então
e) para
GABARITO APENAS DAS QUESTÕES OBJETIVASa) abordarem situações diferentes
b) a preocupação com a exploração do trabalho infantil
c) o alerta para os pais não deixarem seus filhos sozinhos nas feiras
d) nada, pois o instrumento de trabalho no texto é o balaio e nessa imagem são carroças de mão.
e) a ilustração que a imagem faz da temática tratada no texto.
10. O termo em destaque no fragmento abaixo pode ser substituído, sem alterar o sentido do texto, por:
"Depois das nove o movimento ia caindo. Algumas feirinhas mais maneiras, e por isso mais baratas ainda haveriam de surgir durante o dia. Lá pras tantas só aparecia batateiro. Só compravam batata para a família, mas tapeavam dizendo que era tudo para os porcos."
a) ou
b) pois
c) porém
d) então
e) para
5. D
6. A
7. B
8. C
9. E
10. C
“A vida é feita de
histórias...”
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