1. Leia
as afirmações feitas a partir da obra Morte e vida severina, de João Cabral de
Melo Neto.
I. A peça, em forma de poema,
apresenta a história de um dos tantos severinos de Maria, filhos de Zacarias,
que foge da morte que os abate antes da velhice.
II. A trajetória do migrante
nordestino em busca de um mundo melhor permeia o enredo: por onde passa,
encontra miséria, morte, pobreza, sofrimento.
III. O título é um exemplo de
poesia engajada que retrata a dura realidade da população nordestina.
IV. O nascimento de uma
criança pode representar a esperança de dias melhores; mesmo com tantas
adversidades, há uma quebra na trajetória sofrida do personagem.
Das proposições acima,
a) apenas
II, III e IV estão corretas.
b) apenas
III e IV estão corretas.
c) apenas
I e IV estão corretas.
d) apenas
I e II estão corretas.
e) I, II,
III e IV estão corretas.
Ela parecia pedir socorro
contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos
quis que ela não fugisse e falou:
— Repita o que você disse,
Lóri.
— Não sei mais.
— Mas eu sei, eu vou saber
sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade
soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um só.
— Sim.
Lóri estava suavemente
espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus
olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo
mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos
poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz
estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um
grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando
a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade.
Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco
mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade.
Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo.
LISPECTOR, C. Uma aprendizagem
ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.
2. A obra de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas soluções narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no
a) discurso
fragmentado como reflexo de traumas psicológicos.
b) exercício
de análise filosófica conduzido pelo narrador.
c) desencontro
estabelecido no diálogo do par amoroso.
d) registro
do processo de autoconhecimento da personagem.
e) afastamento
da voz narrativa em relação aos dramas existenciais.
Vergonha de viver
Há pessoas que têm vergonha de
viver: são os tímidos, entre 02 os quais me incluo. Desculpem, por exemplo,
estar tomando lugar 03 no espaço. Desculpem eu ser eu. Quero ficar só! grita a
alma do 04 tímido que só se liberta na solidão. Contraditoriamente quer o
quente 05 aconchego das pessoas. Vai, Carlos, vai ser gauche na vida. (Não 06
sei se estou citando Drummond do modo certo, escrevo de cor).
E para pedir aumento de
salário – a tortura. Como começar? 08 Apresentar-se com fingida segurança de
quem sabe quanto vale em 09 dinheiro – ou apresentar-se como se é, desajeitado
e excessivamente 10 humilde.
O que faz então? Mas é que há
a grande ousadia dos tímidos. E 12 de repente cheio de audácia pelo aumento com
um tom reivindicativo 13 que parece contundente. Mas logo depois, espantado,
sente-se mal, 14 julga imerecido o aumento, fica todo infeliz.
(Clarice Lispector)
3. Assinale a alternativa correta.
a) Em
“Vergonha de viver”, Clarice Lispector escolhe comentar sobre fatos da vida
cotidiana tomando como ponto de partida um tipo social cujo comportamento é
centrado na timidez.
b) Ao
citar um conhecido verso, de autoria do poeta mineiro Carlos Drummond de
Andrade, Clarice Lispector escolhe filiar-se a pressupostos estéticos
vinculados a uma tradição neoparnasiana na prosa.
c) Nos
três parágrafos do trecho escolhido de “Vergonha de viver” é facilmente
encontrável a intensa experiência epifânica, cuja presença desarticula o eixo
sintático-semântico da crônica, assim como o equilíbrio racionalista da autora.
d) Não há
marcas de empatia, no texto, da autora para com as pessoas as quais ela
classifica como “tímidos”, configurando, por conseguinte, um acentuado
distanciamento entre a cronista e o tema sobre o qual escreveu.
e) A
condenação, por parte da autora, do comportamento da timidez transforma
“Vergonha de viver” em uma das mais contundentes e ácidas crônicas escritas
pela autora de Felicidade clandestina.
"O correr da vida embrulha
tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
ROSA, J. G. Grande sertão:
veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
4. No romance Grande sertão: veredas, o protagonista Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a)
a) notícia,
por informar sobre um acontecimento.
b) aforismo,
por expor uma máxima em poucas palavras.
c) crônica,
por tratar de fatos do cotidiano.
d) fábula,
por apresentar uma lição de moral.
e) diário,
por trazer lembranças pessoais.
5. Por vezes, a literatura pode se pautar por diferentes tempos: há o tempo da história narrada, de sua sequência cronológica, e há o tempo da linguagem que processa essa história. A linguagem experimental do irlandês James Joyce reinterpreta, em pleno século XX, a história mítica de Ulisses. No Brasil, há uma ocorrência similar, se pensamos em Grande sertão: veredas, romance onde Guimarães Rosa articula magistralmente dois planos temporais:
a) a
história do passado colonial e o registro das velhas crônicas medievais.
b) o
ritmo cantante da lírica e a urgente denúncia política.
c) o
universo arcaico do sertão e a expressão linguística ousada e inventiva.
d) a
corrosão nostálgica da memória e a busca de uma nova mitologia.
e) o
desapego às crenças do passado e a obsessão pelo experimentalismo estético.
Leia o trecho abaixo, extraído
de Sagarana, de João Guimarães Rosa:
Estremecem, amarelas, as
flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A
erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam,
sacudindo as estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona,
de folhas peludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde-azul! A
pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas
fendilhadas, entrando em convulsões.
– Mas, meu Deus, como isto é
bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se acabar!…
É o mato, todo enfeitado,
tremendo também com a sezão.
(GUIMARÃES ROSA. “Sarapalha”.
Sagarana. Obra completa (vol. 1). Nova Aguilar, 1994. p. 295.)
6. O trecho extraído do conto “Sarapalha”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, exemplifica um aspecto que está presente em todos os contos do mesmo livro. Assinale a alternativa que reconhece esse aspecto de forma adequada.
a) São
narrados duelos que se travam entre o meio e o homem e que são vencidos apenas
pelo uso da força física e da valentia.
b) A
descrição do meio físico é mediada pela visão do narrador, que apresenta a
natureza como elemento tão reversível quanto a condição humana.
c) A
descrição pormenorizada do espaço físico visa a excluir a dimensão psicológica
e mística da narrativa, para fortalecer a feição pitoresca da região.
d) A
ausência de aliterações e a economia de adjetivos são recursos utilizados para
representar a aridez da natureza.
e) A
religiosidade cristã católica rege as decisões humanas e transforma os homens e
a natureza a partir da ação direta de Deus.
7. Na elaboração de sua poesia, João Cabral de Melo Neto não teve dúvida em amadurecer um projeto radical de linguagem, de caráter programático, pelo qual sua expressão poética adota uma rígida disciplina formal. Por conta disso, muitas passagens de sua poesia traduzem um compromisso com o necessário rigor da forma, tal como se vê nestes versos:
a) Mundo
mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma
solução.
b) Vou-me
embora pra Pasárgada, Lá sou amigo do rei, Lá tenho a mulher que eu quero Na
cama que escolherei.
c) Meu
verso é minha consolação. Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua
cachaça.
d) Minhas
palavras são a metade de um diálogo obscuro Continuando através de séculos
impossíveis. Nossas perguntas e respostas se reconhecem Como os olhos dentro
dos espelhos.
e) Daí
porque o sertanejo fala pouco: as palavras de pedra ulceram a boca e no idioma
pedra se fala doloroso; o natural desse idioma fala à força.
O mato do Mutúm é um enorme
mundo preto, que nasce dos buracões e sobe a serra. O guará-lobo trota a vago
no campo. As pessôas mais velhas são inimigas dos meninos. Soltam e estumam
cachorros, para ir matar os bichinhos assustados — o tatú que se agarra no chão
dando guinchos suplicantes, os macacos que fazem artes, o coelho que mesmo até
quando dorme todo-tempo sonha que está sendo perseguido. O tatú levanta as
mãozinhas cruzadas, ele não sabe — e os cachorros estão rasgando o sangue dele,
e ele pega a sororocar. O tamanduá. Tamanduá passeia no cerrado, na beira do
capoeirão. Ele conhece as árvores, abraça as árvores. Nenhum nem pode rezar,
triste é o gemido deles campeando socôrro. Todo choro suplicando por socôrro é
feito para Nossa Senhora, como quem diz a salve-rainha. Tem uma Nossa Senhora
velhinha. Os homens, pé-ante-pé, indo a peitavento, cercaram o casal de
tamanduás, encantoados contra o barranco, o casal de tamanduás estavam
dormindo. Os homensempurraram com a vara de ferrão, com pancada bruta, o
tamanduá que se acordava. Deu som surdo, no corpo do bicho, quando bateram, o
tamanduá caiu pra lá, como um colchão velho.
ROSA, G. Noites do sertão
(Corpo de baile). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
8. Na obra de Guimarães Rosa, destaca-se o aspecto afetivo no contorno da paisagem dos sertões mineiros. Nesse fragmento, o narrador empresta à cena uma expressividade apoiada na
a) religiosidade
na contemplação do sertanejo e de seus costumes.
b) correspondência
entre práticas e tradições e a hostilidade do campo.
c) plasticidade
de cores e sons dos elementos nativos.
d) dinâmica
do ataque e da fuga na luta pela sobrevivência.
e) humanização
da presa em contraste com o desdém e a ferocidade do homem.
Dois parlamentos
Nestes cemitérios gerais
não há morte pessoal.
Nenhum morto se viu
com modelo seu, especial.
Vão todos com a morte padrão,
em série fabricada.
Morte que não se escolhe
e aqui é fornecida de graça.
Que acaba sempre por se impor
sobre a que já medrasse.
Vence a que, mais pessoal,
alguém já trouxesse na carne.
Mas afinal tem suas vantagens
esta morte em série.
Faz defuntos funcionais,
próprios a uma terra sem
vermes.
MELO NETO, J. C. Serial e
antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
9. A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a)
a) tom de
ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra.
b) nivelamento
do anonimato imposto pela miséria na morte.
c) aspecto
desumano dos cemitérios da população carente.
d) inutilidade
de divisão social e hierárquica após a morte.
e) indiferença
do sertanejo com a ausência de seus próximos.
A partida de trem
Marcava seis horas da manhã.
Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de
Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os
trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a
forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter
sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi
não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o
beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes
a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado.
Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava
que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o
movimento e perguntou:
— A senhora deseja trocar de
lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou
com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia
ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado
no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela
Pralini:
— É por causa de mim que a
senhorita deseja trocar de lugar?
LISPECTOR, C. Onde estivestes
de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).
10. A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)
a) sentimento
de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.
b) incompatibilidade
psicológica entre mulheres de gerações diferentes.
c) comportamento
vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.
d) anulação
das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
e) constrangimento
da aproximação formal de pessoas desconhecidas.
11. A obra de Rubem Valentim apresenta emblemas que, baseando-se em signos de religiões afro-brasileiras, se transformam em produção artística. A obra Emblema 78 relaciona-se com o Modernismo em virtude da
a) simplificação
de formas da paisagem brasileira.
b) valorização
de símbolos do processo de urbanização.
c) fusão
de elementos da cultura brasileira com a arte europeia.
d) alusão
aos símbolos cívicos presentes na bandeira nacional
e) composição
simétrica de elementos relativos à miscigenação racial.
Famigerado
Com arranco, [o sertanejo]
calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí
estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se
resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes.
Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho
indeciso. Redigiu seu monologar.
O que frouxo falava: de
outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos,
insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha
de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios.
Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:
— Vosmecê agora me faça a boa
obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz-me-gerado…
falmisgeraldo… familhas-gerado…?
ROSA, J. G. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988
12. A linguagem peculiar é um dos aspectos que conferem a Guimarães Rosa um lugar de destaque na literatura brasileira. No fragmento lido, a tensão entre a personagem e o narrador se estabelece porque
a) o
narrador se cala, pensa e monologa, tentando assim evitar a perigosa pergunta
de seu interlocutor.
b) o
sertanejo emprega um discurso cifrado, com enigmas, como se vê em “a conversa
era para teias de aranhas".
c) entre
os dois homens cria-se uma comunicação impossível, decorrente de suas
diferenças socioculturais.
d) a fala
do sertanejo é interrompida pelo gesto de impaciência do narrador, decidido a
mudar o assunto da conversa.
e) a
palavra desconhecida adquire o poder de gerar conflito e separar as personagens
em planos incomunicáveis.
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